domingo, 24 de novembro de 2013

CINE TROPPO - SEMANA DE 22 À 28/11/13

Cine Troppo
Marco Antonio Moreira Carvalho



“AMOR PLENO”
O cineasta Terrence Malick pensa o cinema como uma arte com caminhos ainda a serem explorados e provavelmente por isso seu trabalho pode ser interpretado de várias formas, agradando ou não crítica e público. Mas não se pode deixar de perceber que sua intenção como artista é de desafiar o espectador com seus temas e meios de fazer um cinema de exploração, de investigação. O cinema de Malick nos leva sempre a busca do equilíbrio do homem com relação a natureza, elemento real e significativo que prova a sua existência através da sua beleza e complexidade, como se esse fosse o início de uma outra vida, uma outra harmonia, um outro padrão de descoberta humana. Seus filmes direta ou indiretamente revelam esta busca através de histórias de amor, de conflitos, de dúvidas, de perguntas e respostas.
Desde os primeiros filmes de Malick, “Terra de Ninguém”(1975) e “Cinza do Paraiso”(1978), esta busca já tinha sido revelada de forma intensa evoluindo progressivamente até “A Árvore da Vida” (2011) quando o diretor reforçou não somente este seu caminho como artista como também elaborou uma estética cinematográfica única para suas histórias criando uma narrativa muito pessoal para o seu tipo de cinema. A câmera de Malick acompanha seus personagens como se fosse algo místico, uma alma, uma entidade, uma testemunha em comunhão com a natureza, com os personagens e com uma religiosidade que cerca à todos em seus dramas, caminhos, escolhas, encontros e desencontros. A narração dos personagens, dividida constantemente com o espectador, cria uma intimidade clara e proposital. É como se nós fossemos estes personagens de alguma forma. E essa intimidade, esta forma de narrar seus filmes redimensiona seus temas principais: o amor, a fé, a religiosidade, o ser ou não ser e a eterna busca por respostas.



Todos estes temas estão em “Amor Pleno”, onde o cineasta atinge uma maturidade extrema e constrói seu filme/arte com uma maestria, personalidade e sensibilidade raras no cinema de hoje; “Amor Pleno” é filme que em diversos momentos emociona, conquista e espanta com tanta complexidade, exigindo do espectador uma outra postura no seu entender, causando um sentimento de que esta se vendo mais do que um filme mas sim a uma obra de arte. E como em toda obra de arte, merece ser pensada, sentida, refletida, nunca deixando o espectador indiferente. Malick faz um cinema de reflexão e cabe ao espectador seguir ou não sua proposta.
Por essas razões Terrence Malick faz o tipo de cinema que me interessa. Um cinema de exploração, de reflexão, de busca e de elevação do próprio significado do cinema como arte no mundo de hoje. Para muitos, isso pode parecer muita pretensão mas na realidade, Terrence Malick é um grande artista que felizmente escolheu o cinema para expor seu talento. Sorte nossa que admiramos e cultuamos o cinema que ainda prova que pulsa com o talento de cineastas como ele.

ESTREIAS DA SEMANA

 

"O Nono Dia” (Cine Olympia) - Em fevereiro de 1942 o padre luxemburgense Henri Kremer recebe nove dias de liberdade do campo de concentração. Gebhardt, oficial da Gestapo, coloca-o frente adecisão entre vida e morte: Kreme deve convencer a sua igreja a colaborar com os nazistas. De outra forma, não somente ele como também sua família e confrades presos estariam ameaçados de morte. Durante nove dias ele leva diariamente uma disputa de discursos e pensamentos brilhantes com o oficial da Gestapo. Kremer luta com este conflito de conciência, onde não existe certo ou errado. Baseado em trechos do diário do religioso Jean Bernard surgiu um filme penetrante e instigante, com diálogos sagazes e excelente atores, que se ocupa da pergunta atemporal sobre a responsabilidade do indivíduo.
"Sobrenatural : Capítulo 2"

AGENDA


*Cineclube Alexandrino Moreira :
Dia 25/11 – “Os Esquecidos” de Luiz Bunuel. Sessão às 19h. Entrada Franca. Debate após a exibição.
*Cine Olympia:
De 22/11 à 05/12 – “O Nono Dia” de Volker Schlondorff. Sessão às 18:30h. Entrada Franca. Apoio : Instituto Goethe.
*Cine Líbero Luxardo:
De 13/10 à 24/11 – “Frances Ha” de Noah Baumbach.
De 26/11 à 01/12 - Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul
*Cine Estação:
De 13 à 27/11 – “Amor Pleno” de Terrence Malick. Com Olga Kurylenko, BeN Afleck, Javier Bardem e Rachel Adams.

domingo, 17 de novembro de 2013

CINE TROPPO - SEMANADE 15 À 21/11/13

 
Cine Troppo
Marco Antonio Moreira Carvalho


*”Ninfomaníaca”, novo filme de de Lars Von Trier (foto) (mesmo diretor de “”Dogville”, “Anti-Cristo” e “Melancholia”) já tem data marcada para lançamento no Brasil : janeiro de 2014. O filme tem longa duração e será lançado em duas partes (a segunda parte ainda não tem data de lançamento definido). No filme, Von Trier mostra a história da vida sexual de uma mulher da adolescência até os 50 anos, com direito a cenas de sexo reais (que foram rodadas por dublês e tiveram os rostos dos atores incluídos posteriormente, graças à evolução dos efeitos especiais). O longa-metragem tem cerca de 5 horas de duração A protagonista do filme é Charlotte Gainsbourg, (que já trabalhou com von Trier em “Melancolia” e “Anticristo”). No elenco, Willem Dafoe, Shia LaBeouf, Stellan Skarsgård, Christian Slater, Jamie Bell e Uma Thurman.
*O francês Michel Hazanavicius, ganhador do Oscar de melhor diretor de 2011 por “O Artista” (que venceu também na categoria melhor filme), está rodando na Geórgia seu novo trabalho, “The Search” que também terá locações na França. Annette Bening e Bérénice Bejo, a estrela de “O Artista” (e mulher do diretor), acabam de se juntar ao elenco. “The Search” é inspirado no longa de mesmo nome de Fred Zinnemann, de 1948, que se passava em Berlim, após o fim da Segunda Guerra. Hazanavicius, no entanto, transferiu a trama para a Chechênia devastada pela guerra da virada do milênio, onde uma integrante de uma ONG cria um vínculo especial com um menino.
*”Leviathan” de Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor, um dos documentários mais elogiados de 2012, vencedor do prêmio da crítica no Festival de Locarno, estará na programação do festival Hors Pistes, que acontece de 15 a 17 de novembro, em São Paulo. Realizado pelo MIS-SP em parceria com o centro Georges Pompidou, de Paris, o festival abre espaço para filmes que trabalham na fronteira entre o audiovisual e as artes plásticas
*A Disney marcou a data de estreia do “Episódio VII da saga Star Wars, a ser dirigido por J.J. Abrams, criador da série de TV Lost e diretor dos filmes que deram reinício à franquia Star Trek. Será em 18 de dezembro de 2015, no auge da temporada de Natal, portanto. Segundo o comunicado do diretor do estúdio, Alan Horn, a ideia é dar bastante tempo para Adams fazer o melhor filme possível. Há previsão de mais dois filmes neste novo ciclo, iniciado com a compra da Lucasfilm pela Disney, há cerca de um ano.
*A rede de cinemas Moviecom inaugurou em Marabá mais um complexo de cinemas no estado do Pará. Atualmente, o Moviecom tem cinemas em Belém, Castanhal, Tucuruí e agora Marabá. Ao todo, Marabá ganhou 5 salas totalmente digitais com a programação que segue o padrão da rede em todo o Brasil. Em Belém, até o final de 2015, serão inauguradas mais 18 salas de cinemas (números ainda a serem confirmados) das redes UCI e Cinesystem.
*Recentemente foi publicado num blog a relação dos melhores filmes do cinema de vários cineastas. Leia aqui os preferidos de Woody Allen: Ladrões de Bicicletas [Vittorio de Sica, 1948], O Sétimo Selo [Ingmar Bergman, 1957], Cidadão Kane [Orson Welles, 1941], marcord [Federico Fellini, 1973], , 8½ [Federico Fellini, 1963], Os Incompreendidos [François Truffaut, 1959], Rashomon [Akira Kurosawa, 1950], A Grande Ilusão [Jean Renoir, 1937], O Discreto Charme da Burguesia [Luis Bunuel, 1972] e Glória Feita de Sangue [Stanley Kubrick, 1957]

 

* Finalmente chega em DVD o ótimo “Sob o Domínio do Medo”, polêmico filme do grande diretor Sam Peckinpah (Meu Ódio Será sua Herança) chamado por muitos estudiosos e críticos de cinema como o poeta da violência. Como Dustin Hoffman como protagonista, o filme foi feito no início dos anos 70 e teve problemas de censura em vários países pela sua violência. Um tímido matemático americano e sua esposa inglesa se mudam para uma cidadezinha no interior da Inglaterra, buscando uma vida tranquila. No entanto, lá eles vão encontrar apenas a violência e o medo. Esta Edição Especial traz uma versão restaurada e mais de uma hora de extras.
*A programação do circuito alternativo de cinemas de Belém continua fazendo sua parte em alto estilo. Ótimos filmes sendo trazidos para exibição. Semana passada, podemos conferir “Pietá” de Kim Ki Duk e o ótimo filme alemão “O Apartamento”. Esta semana, temos “Amor Pleno”(cine Estação) de Terrence Malick e “Frances Ha” (cine Líbero Luxardo). O que está faltando é uma maior participação do público na exibição destes filmes. Não é possível que numa cidade como Belém não se tenha um público maior que sinta a necessidade de ver o cinema também como arte.

ESTREIAS DA SEMANA


“Amor Pleno” de Terrence Malick (Cine Estação) - Depois de uma viagem, Marina (Olga Kurylenko) e Neil (Ben Affleck) começam a enfrentar problemas no seu relacionamento. Marina se aproxima de um padre (Javier Bardem), que também é um estrangeiro nos EUA e que luta com sua vocação, enquanto Neil renova seus laços com uma amiga de infância, Jane (Rachel McAdams).

“Jogos Vorazes : Em Chamas” com Jennifer Lawrrence


“Frances Ha” de Noah Baumbac (Cine Líbero Luxardo). Frances é uma ambiciosa aprendiz de uma companhia de dança, que tem que se contentar com muito menos sucesso e reconhecimento do que ela gostaria. Mesmo assim, ela encara a vida de uma maneira leve e otimista.

AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira :
Dia 25/11 – “Os Esquecidos” de Luiz Bunuel. Sessão às 19h. Entrada Franca. Debate após a exibição.
Em Dezembro : "Harry : O Amigo de Tonto" de Paul Mazursky


*Cine Olympia:
De 15 à 21/11 (exceto dia 18/11) – “Hanami: Cerejeiras em Flor” de Doris Dörrie. Quando Trudi descobre que seu marido Rudi tem uma doença grave, ela sugere que ambos visitem os filhos em Berlim, sem contar a eles sobre o estado de saúde do pai. Como Franzi e Karl não dão muita atenção aos pais, eles resolvem partir para o mar Báltico. Sessão às 18:30h. Entrada Franca. Apoio : Instituto Goethe. Dia 23/11 – “O Homem do Prego” de Sidney Lumet. Sessão Cult às 16h. Entrada Franca

*Cine Líbero Luxardo:
De 13/10 à 24/11 – “Frances Ha”de de Noah Baumbach
Dia 23/11 – “O Homem do Prego” de Sidney Lumet. Sessão Cult às 16h. Entrada Franca

*Cine Estação:De 13 à 27/11 – “Amor Pleno” de Terrence Malick

domingo, 10 de novembro de 2013

CINE TROPPO - SEMANA DE 08 À 14/11/13

Cine Troppo
Marco Antonio Moreira Carvalho


*“Pietá” de Kim Ki Duk ainda está em exibição no circuito local e merece ser visto. Certamente é um dos melhores filmes do ano. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2012, o filme mostra o estilo forte, cruel e ao mesmo tempo poético do diretor coreano Kim Ki Duk, já revelado em ótimos trabalhos como “Fôlego” e “Sonho”, além dos líricos “Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera” e “Casa Vazia”. “Pietá” revela um mundo violento e desumano a partir da relação entre um criminoso e sua mãe que tenta humanizá-lo depois de anos de abandono. Esta busca da mãe pelo filho, envolvendo o perdão, a humildade, o amor, coloca seu filho em confronto com o mundo duro que ele aprendeu a viver, enfrentar, sobreviver. O filme tem belos momentos de amor, de dor, de busca, de resgate de ambos os personagens, mãe e filho. E o final inesperado, nos dá uma sensação de esperança e amargura sobre o mundo que estes personagens (sobre) vivem. “Pietá” é um belo filme feito para provocar corações e mentes e ao mesmo tempo nos humanizar, provocando questionamentos sobre o mundo que vivemos e a forma como nos relacionamentos com ele. Por este resultado, vejo que o diretor Kim Ki Duk é sem dúvida um dos melhores cineastas em atividade no cinema atual. Vale conferir toda a sua obra.
 

*“O filme “O Conselheiro do Crime” de Ridley Scott é muito bom. É um trabalho construído como se fosse uma tragédia grega onde todos os personagens já estão com seus destinos definidos e mesmo assim, correm riscos. O filme é muito bem dirigido por Scott e surpreende várias vezes com diálogos excelentes, fortes e realistas. A trama em si não traz novidades mas a forma proposital de misturar a linguagem do teatro com cinema que o diretor escolheu, funcionou perfeitamente na construção dos personagens e das cenas. Aqui, todos estão à beira do abismo mas arriscam, perdendo ou ganhando. Poucos conseguem sobreviver a este jogo, mas é sobre este jogo de sobrevivência que o filme discute com o espectador. Ótimas atuações completam a excelente impressão do filme de Scott que há algum tempo realizava um filme tão bom. Do elenco, destaque especial para Michael Fassbender, Brad Pitt e Cameron Diaz em sequências de alta qualidade de atuação.
 

*”Os Suspeitos” tem como grande referência o diretor Denis Villeneauve que realizou o excelente “Incêndios” em 2010. Aqui, num roteiro aparentemente comum sobre um caso de sequestro de duas crianças, o diretor soube equilibrar momentos de tensão, suspense e uma boa narrativa envolvendo vários personagens que vão se modificando na medida que o drama do desaparecimento das crianças aumenta mesmo com a investigação da polícia. O personagem de Hugh Jackman, um dos pais das crianças que desapareceram e que inicialmente surge como um homem simples e calmo, diante da situação dramática libera uma carga de violência e agressividade que gera cenas altamente violentas no filme quando ele sequestra um dos suspeitos do sumiço da filha que acaba sendo solto pela polícia local por falta de provas. Procurando dar um equilíbrio e importância para os personagens principais e seu envolvimento com este drama familiar, o diretor acabou realizando um filme acima da média do gênero que se não surpreende com reviravoltas e mistérios de última hora, foge do final feliz comum aos filmes deste tipo e acaba prendendo e instigando a curiosidade do espectador até a última cena. Confira !
*”Lições de Harmonia” de Emir Baigazin, coprodução entre Cazaquistão, Alemanha e França, ganhou o prêmio de melhor filme segundo o júri oficial da competição Novos Diretores, da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O evento terminou na última quinta-feira, 31 de outubro, com uma cerimônia no CineSesc, apresentada por Rubens Ewald Filho e Marina Person. O júri foi composto pelos cineastas Sergei Loznitsa, Lav Dias, Hans Weingartner e Monique Gardenberg, e pelo diretor de fotografia Cesar Charlone. Hector Babenco e Ettore Scola foram homenageados com o prêmio Leon Cakoff. “Até que a Sbornia nos separe” e “Outro sertão” foram eleitos pelo público os melhores filmes brasileiros de ficção e documentário, respectivamente, e receberam prêmios em dinheiro da Cinemark no valor de R$ 25 mil e R$ 15 mil.

ESTREIAS DA SEMANA


“Capitão Philips” - História verídica do Capitão Richard Phillips e do sequestro em 2009 por piratas somalis do navio de bandeira norte-americana MV Maersk Alabama, o primeiro navio cargueiro americano a ser sequestrado em 200 anos. Direção de Paul Greengrass (O Ultimato Bourne/Zona Verde) com Tom Hanks.
“Bons de Bico” - Animação em exibição com cópias dubladas.
“O Apartamento” (Cine Olympia) – A desocupação de um apartamento em Tel Aviv traz à luz uma incrível história de uma amizade mantida em segredo entre os avós judeus e a família de um alto funcionário da SS. Filme exibido em vários festivais e elogiado pela crítica internacional.


AGENDA


*Cineclube Alexandrino Moreira :
Dia 11/11 – “Fellini Oito e Meio” de Federico Fellini. Sessão às 19h. Entrada Franca. Debate após a exibição.
Dia 25/11 – “Os Esquecidos” de Luíz Buñuel. Sessão às 19h.

 

*Cine Olympia:
De 08 à 14/11 (exceto dias 09, 11 e 12) – “O Apartamento”. Sessão às 18:30h. Entrada Franca. Apoio : Instituto Goethe.
Dia 12/11 – Projeto CINEMA E MÚSICA com o filme “A Garota que Ficou em Casa” (1919) de David Griffith com Syn de Conde. Acompanhamento musical ao vivo com Paulo José Campos de Melo.Sessão às 18:30h. Entrada Franca.
*Cine Líbero Luxardo: De 30/10 à 10/11 – “Pietá” de Kim Ki Duk. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2012,
Dia 13/11 – “Frances Ha” de Noah Baumbach
*Cine Estação:
De 13 à 27/11 – “Amor Pleno” de Terrence Malick

CINE TROPPO - SEMANA DE 01 À 07/11/13

Cine Troppo
Marco Antonio Moreira Carvalho

ACCPA - 50 ANOS DE CRITICA DE CINEMA
A crítica de cinema fazia parte de um jornal ou revista a partir do que fazia André Bazin na França e os redatores do “Variety” nos EUA. Por aqui a moda (e era) ganhou espaço quando ainda se sentia efeitos da época dourada da borracha e o cinema deixava de ser um brinquedo inconsequente dedicado à classe menos favorecida. Surgia o cinema Olympia como espaço “de luxo” para a burguesia ainda banhada no lucro da goma elástica e no folheto que trazia a programação da casa o poeta Rocha Moreira comentava filmes de forma muito pitoresca, usando títulos como motivo para saudar frequentadoras das “matinês” e “soirées”. Mas eu sempre pensei em crítica local a partir da coluna “Palcos e Telas” que o bancário Theodoro Brazão e Silva publicava em “A Folha do Norte” atendendo aos pedidos do diretor do órgão, Paulo Maranhão. Theodoro dividia de forma explicita o que era “filme comercial” e “de arte”. Eu, garoto, aprendia que “O Diabo Branco”, capa—espada italiano com Rossano Brazzi, era um típico “filme comercial” e na época isso queria dizer que nada tinha para a cabeça do espectador. Cabeça, por exemplo, era o surrealismo de René Clair. Brazão contava até como se vestia para ver uma “fita” e se chovia ou era noite estrelada na hora do programa. Com isso ganhava um público que se ressentia da falta de colunismo social. Mas o critico pioneiro não estava só, exceto na regularidade de seu trabalho. Muitos intelectuais escreviam sobre cinema, a maioria a pedidos do exibidor que visava alardear as qualidades de determinado filme. E nesse grupo já despontava Adalberto Affonso que de empregado do cinema Guarani ganhou promoção e chefiar o Olympia e satélites (muitas casa de bairros) da empresa Teixeira & Martins depois Cinematográfica Paraense Ltda e por fim Empresa de Cinema S. Luiz Ltda. Esta semana se comemora 50 anos de uma associação desses críticos. Foi em 1963 que os jornalistas de Belém atuantes desde o final dos anos 1950 resolveram se unir em uma associação que além de ajudar na troca de ideias de alguma forma estabilizava seus afazeres (nem digo emprego pois alguns escribas não eram funcionários dos jornais que publicavam seus textos).Em 1983 consegui editar o livro “A Critica de Cinema em Belém”(SECDET/Falangola Editora). Nesse ano já se comemorava o vigésimo de atuação do grupo fundador da APCC(Associação Paraense de Críticos Cinematográficos), composto por Acyr Castro(“A Província do Pará”), Edwaldo Martins(mesmo jornal), Alberto Queiroz(“O Liberal”), João Paulo Macedo(“Folha do Norte”), Ariosto Pontes(Rádio Clube do Pará) e Rafael Costa(“Jornal do Dia”). Cada membro representava um jornal. Do grupo sobrevive Acyr e Ariosto. Eu peguei o bonde andando na coluna do primeiro em “A Província...” e depois que ele partiu para São Paulo assumi o posto por nada menos de 35 anos. Dos primeiros tempos também estão Arnaldo Prado Jr, João de Jesus Paes Loureiro, Isidoro Alves, Ronaldo Barata e outros de passagem muito curta pelos órgãos que os abrigaram como Nelson Townes de Castro (“Folha do Norte”). A APCC gerou um cineclube em novembro de 1969. Não era o primeiro. Antes houve o CC-Espectadores (1955),“Os Neófitos”(1961) e o da Casa da Juventude. Com a minha persistência, alugando filmes das filiais de distribuidoras a atuando em diversos espaços, mantive o clube por 15 anos, gerando os cinemas 1, 2 e 3. Nos finais de ano reuniam-se os críticos para escolher os melhores filmes exibidos no período. O critério de escolha vinha do exterior e se compunha de 10 títulos com o primeiro colocado somando 10 pontos(citações)e o décimo 1 ponto. Esta reunião, que persiste agora quando a associação mudou o nome para ACCPA (Associação de Críticos de Cinema do Pará), serve também de festa de confraternização posto que se efetua em época natalina. E realmente é uma festa de amigos embora em pelo menos um ano (1981) a polêmica em torno de um titulo tenha gerado uma briga (hoje lembrada como uma comédia não votada). Presidida por Marco Antonio Moreira Carvalho, que desde criança acompanhou a entidade seguindo seu pai, Alexandrino Moreira (que fazia parte da associação e que mantinha coluna de comentários sobre lançamentos de filmes em “O Liberal”), a então APCC chegou a ser presidida por mim e Luzia Álvares. Hoje o Marco também assume a faixa cineclubista programando em vários espaços e por ironia o próprio Olympia de onde surgiu o embrião critico através de outro Moreira (o Rocha). São 50 anos ativos. E se vai comemorar com uma semana de filmes contemplados pelos sócios em décadas específicas: ”A Balada do Soldado”(anos 60), “Laranja Mecânica”(anos 70), “A Rosa Púrpura do Cairo”(anos 80), “Asas do Desejo”(anos 90) e “A Arca Russa”(anos 2000/09). A partir de 1° de novembro no Olympia. (Pedro Veriano)

ESTREIAS DA SEMANA
 

“Pietá” de Kim Ki Duk - Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2012, ''Pietá' revela um mundo violento e desumano a partir da relação entre um criminoso e sua mãe que tenta humanizá-lo.

“Thor : O Mundo Sombrio”: Thor (Chris Hemsworth) e Jane Foster (Natalie Portman) terão que se adaptar a nova dinâmica intergalática, causada pela ausência de Odin (Anthony Hopkins).


AGENDA
*Cineclube Alexandrino Moreira :
Dia 11/11 – “Fellini Oito e Meio” de Federico Fellini. Sessão às 19h. Entrada Franca. Debate após a exibição.
Dia 25/11 – “Os Esquecidos” de Luís Buñuel. Sessão às 19h.
*Cine Olympia:
De 01 à 07/11 (exceto dias 02 e 04) – “Festival de 50 anos da ACCPA(Associação dos Críticos de Cinema do Pará)” – Dia 01 – “A Balada do Soldado”/Dia 03 – “Laranja Mecânica” de Stanley Kubtrick/Dia 05 – “A Rosa Púpura do Cairo” de Woody Allen/Dia 06 – “Asas do Desejo” de Win Wenders/Dia 07 – “Arca Russa” de Alexander Sokurov. Sessão às 18:30h. Entrada Franca.
*Cine Líbero Luxardo:
De 30/10 à 10/11 – “Pietá” de Kim Ki Duk. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza 2012, ''Pietá' revela um mundo violento e desumano a partir da relação entre um criminoso e sua mãe que tenta humanizá-lo. Dia 09/11 – “O Jovem Frankenstein” de Mel Brooks. Sessão Cult às 16h. Debate após a exibição. Dia 13/11 – “Frances Ha” de Noah Baumbach
*Cine Estação: De 13 à 27/11 – “Amor Pleno” de Terrence Malick

Coluna Cineclube - Dia 29/01/23