segunda-feira, 21 de abril de 2008

"O ORFANATO" É SURPREENDENTE


Na última semana de exibição nos cinemas, vi "O Orfanato" de Juan Antonio Bayona, numa produção de Gulherme Del Toro (que dirigiu o belíssimo "Labirinto de Fauno"). No filme, uma mulher retorna ao orfanato onde cresceu, acompanhada de seu marido e filho, na intenção de reabri-lo. Porém algo estranho no local começa a afetar o filho dela. Com Geraldine Chaplin, o filme é surpreendente do início ao filme. Muito bem dirigido com várias histórias de misturando o tempo todo, o filme é perfeito na construção de um clima de suspense dentro do que se chama de realismo fantástico, onde tudo tem lógica e pode acontecer. Com um roteiro cheio de criativas situações, o filme surpreende até o seu final, deixando o espectador totalmente envolvido com o enredo e seus personagens, tendo um final poético e emocionante que válida uma das intenções do roteiro. Impressionante e marcante, "O Orfanato" é um dos bons filmes que vi este ano. Quem perdeu nos cinemas, anote desde já para conferir em dvd. Vale a pena.

OLYMPIA FAZ 96 ANOS


Dia 24 de abril de 2008 o Cine Olympia completa 96 anos. Patrimônio histórico de nossa cidade, o cinema hoje é o ESPAÇO MUNICIPAL CINE OLYMPIA, administrado pela prefeitura de Belém, que impediu que o cinema fechasse suas portas em 2006 quando o grupo Severiano Ribeiro anunciou o encerramento das atividades da sala devido a crise do setor de exibição (que só vem se agravando desde então). Hoje a sala de cinema tem um caráter mais cultural que de alguma forma está procurando formar uma platéia mais qualitativa em termos de cinema. Com parceiros como o consulado da França, o cinema tem sobrevivido. Espero que o cinema continue sempre, mantendo novas parcerias e mantendo sua importância histórica dentro da vida cultural da cidade.

CERTO..ERRADO..?


A cobertura que a imprensa brasileira está dando ao caso do assassinato da menina Isabella, já passou dos limites. Num mundo em que as pessoas adoram espiar a vida das celebridades, mesmo que por caminhos estranhos, até indiciados de um crime acabam virando celebridades de momento. Com isso, tudo que gira em torno de um crime tão misterioso como este pode virar um evento que pode render muita audiência. Mesmo que para isso se corra riscos de não se saber mais o que é certo e o que é errado numa cobertura jornalistica. Lembro-me de "Rede de Intrigas"(foto), excelente filme de Sidney Lumet produzido nos anos setenta quando um apresentador de um programa começa a ficar louco mas como a audiência do seu programa aumentou, ele é mantido no ar até acontecer uma tragédia. Diferenças de casos à parte, será que é isso mesmo que o jornalismo atual tem que fazer? Explorar a tragédia, até não render mais nenhuma audiência? Será que daqui dois meses, alguém ainda vai dar tanto destaque à este caso? Estranho...Estes tempos modernos são estranhos...

SOBRE GLAUBER ROCHA....


Passadas algumas semanas na boba polêmica da declaração do humorista Marcelo Madureira sobre o cineasta brasileiro Glauber Rocha, quando ele disse que Glauber era uma merda, venho aqui passar minha opinião, já expressada quando apresentei no IAP os filmes de curta e média metragem feitos sobre sua vida e carreira. Para mim é simples: caso eu perguntasse como crítico de cinema alguma coisa para Marcelo Madureira, faria apenas uma pergunta : quantos filmes de Glauber você viu e quantos procurou entender? Caso eu perguntasse para Madureira baseado no estado de espírito do jornalista Paulo Francis, eu diria : quem é você para falar alguma coisa sobre Glauber Rocha? Falar mal de Glauber é antigo no Brasil. Falavam mal quando ele era vivo e vez por outra falam mal dele após a sua morte, dando a entender que sua obra é pequena. Bobagem! A obra de Glauber é grande, polêmica e merece respeito mesmo por aqueles que não entenderam. O problema é que muitos falam sem ver e sem entender a importância de um artista como Glauber Rocha para o cinema brasileiro, e por isso, preferem falar mal. Coisas do Brasil. Pior é que dentro da pequena memória brasileira, é bom que de vez em quando alguém fale mal de Glauber. Quem sabe assim, as pessoas procurem conhecer a sua obra.
Enquanto isso, quem é Marcelo Madureira.....?

"A MÚSICA DE GION" NO OLYMPIA


Comemorando os 96 anos de fundação do Cinema Olympia, está sendo exibido até domingo, dia 27, o filme "A Música de Gion", clássico do cinema japonês dirigido por Keiji Mizoguchi(foto), um dos maiores diretores do cinema japonês ao lado de Akira Kurasawa e Yasujiro Ozu. É um belo trabalho que mostra claramente a característica do diretor na sensível caracterização dos personagens e na construção de uma boa história. Poucos filmea de Mizoguchi foram exibidos no Brasil e muito tem ainda para se conhecer de sua obra. Por isso, vale mais ainda ver este "A Música de Gion". Para quem gosta do cinema como arte, imperdível.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

JOHN CASSAVETES VEM AÍ


John Cassavetes é um diretor respeitado e admirado por grande parte da crítica mas no Brasil, pouco vimos do seu trabalho. Por isso, a mostra de filmes dele que será exibida no Cine Líbero Luxardo deve ser acompanhada de perto por quem gosta de cinema. Vamos ficar ligados na programação que começa dia 16/04 e conferir cinco filmes de sua obra que certamente vão confirmar seu talento. Quem reclama da programação de Belém, não pode deixar de ver a mostra. Ficar reclamando é fácil. Vamos sim é incentivar mostras como esta indo ver os filmes..Vamos lá!

'NAÕ ESTOU LÁ" ENTROU E SAIU...E POUCA GENTE VIU


"Não estou Lá" de Todd Haynes é um dos filmes mais esperados do ano e acabou entrando de repente nos cinemas locais. Fracasso de público, o filme saiu de cartaz com apenas uma semana de exibição. De quem é a culpa? Quando vi o filme, num sábado, pouca gente na platéia e durante a exibição do filme, algumas pessoas saindo. Haynes é um cineasta diferenciado que faz filmes com temas e abordagens diferente e aqui, ao contar a história da vida do excelente cantor e compositor Bob Dylan dentro de sua interpretação muito própria, ele mantém seu estilo brilhante. Mas porquê pouca gente viu o filme? O cinema de autor não interessa mais ao grande público? Bob Dylan é um nome pouco atrativo? Enfim, o filme é ótimo. Gostei da abordagem do diretor a obra de Dylan, criando vários atores para interpretar seu personagem. É um dos melhores filmes que vi este ano. Pena que pouca gente viu...

"2001" REVISITADO


Esta edição especial em dvd é excelente para os fãs do filme. A versão apresenta o filme remasterizado, com comentários dos atores Keir Dullea e Gary Lockwood (sem legendas), o trailer original de cinema e extras especiais fantásticos como “2001: O Making of de um Mito”, “ A Perspectiva de Kubrick: O Legado de 2001”, “A Visão de um Futuro Passado: A profecia de 2001”, “2001: Uma Odisséia no Espaço - Um olhar atrás do futuro”, “O que tem aí?”, ”2001: FX e o início de uma arte conceitual, “Olhe: Stanley Kubrick!” e uma entrevista com Stanley Kubrick de 27/11/1966 (somente áudio). Todos os extras são ótimos, mostrando informações preciosas do filme com muitas declarações do escritor Arthur C. Clarke, falecido esta semana , e que foi parceiro de Kubrick no roteiro. Ficou faltando apenas uma coisa rara: os famosos 17 minutos que foram tirados da versão original logo depois das primeira exibição para os produtores em 1968. Na internet, podemos ver algumas imagens destas cenas, mas nada conclusivo. No fim da coisas, esses minutos são tão raros quanto a famosa versão de quase 30 minutos de “Helter Skelter” dos Beatles que todos os fãs procuram até hoje. Mas nesse caso, sabe-se que Paul McCartney tem uma cópia desta versão. Mas quem terá esses minutos cortados de “2001”? Um dia, quem sabe, numa versão especial essa cenas vão aparecer. Enfim, um clássico como “2001” é atemporal. Na minha opinião, é o melhor filme da história do cinema. Logo, esta versão é para ver e rever, sempre.

CHARLTON HESTON ETERNIZADO


O falecimento do ator americano Charlton Heston esta semana lembrou à todos os cinemaníacos das grandes atuações que ele teve no cinema. É inegável o seu talento e sua forte presença em personagens inesquecíveis como nos filmes “Ben Hur” (sua melhor atuação que lhe deu o “Oscar” de melhor ator), “Os Dez Mandamentos” de Cecil B.. de Mille, “A Marca da Maldade” de Orson Welles, “O Maior Espetáculo da Terra” de Cecil B. De Mille, “O Planeta dos Macacos” de Franklin Schaffner e “No Mundo de 2020” de Richard Fleischer. Conhecido pelo seu trabalho em grandes produções, especialmente nos anos 50 e 60, Heston conseguiu deixar sua marca nos personagens de uma forma simples, sem exageros de atuação ou malabarismos cênicos. Por isso, se destacava. Para muitos, ele pode não ser considerado um ator extraordinário mais sem dúvida ele marcou seu nome na sétima arte por tantos papéis importantes. Afastado do cinema há alguns anos, Heston sofria desde 2002 de mal de Alzheimer, uma doença terrível que deve ter levado muito de sua força. Mas no cinema, seu nome está eternizado, para velhas e futuras gerações de cinemaníacos.

'LEÕES E CORDEIROS" DISCUTE A GUERRA


Em "Leões e Cordeiros", três histórias são interligadas pela guerra dos EUA contra o Afeganistão : um senador pretende lançar sua nova estratégia para a guerra e para divulgá-la, precisa convencer uma jornalista famosa de seu projeto, um professor idealista tenta convencer um jovem e promissor aluno a mudar o curso de sua vida e dois soldados que estão em plena batalha tentam se lembrar das razões que os levaram ao campo de luta. Filmes que discutem a realidade americana são raros em Hollywood. Nesse caso, com um roteiro preciso que mostra as contradições dos personagens e a direção segura de Robert Redford (que como diretor quase sempre realiza bons filmes), temos um bom exemplo de cinema político vindo de um país que normalmente não fala de política. A presença de Redford na direção e elenco, reforça a credibilidade da intenção do filme somado a presença da grande atriz Meryl Streep e Tom Cruise, que com a força do seu nome, acabou atraindo um público mais jovem que precisa discutir politicamente os atos de seu país. O filme acabou não sendo um sucesso de público mais nem seria essa a sua intenção. A questão aqui é levantar as mais variadas formas de discussão que envolvem direta ou indiretamente uma guerra, que acaba afetando novas e velhas gerações. Mesmo que não seja um estudo profundo do assunto, é um trabalho válido e importante para o cinema americano no momento que a guerra só parece ser lembrada em época de eleições. É um filme para ser ver, debater e divulgar. Não perca!

"O ASSASSINATO DE JESSE JAMES" MERECE SER VISTO


“O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford" merece ser visto nas locadoras já que o filme é inédito em nossos cinemas. Jesse James, um dos mais perigosos bandidos da América planeja mais um grande assalto quando percebe que seus inimigos estão cada vez mais próximos, sem saber que seu maior perigo acaba vindo de um dos homens de sua confiança que faz parte de seu bando, Robert Ford. A história do bandido Jessé James já foi contada várias vezes pelo cinema. Esta nova visão do personagem é brilhante, mostrando a contradição e o carisma do personagem, evidenciando sua personalidade e mostrando seu relacionamento com um jovem que quer entrar no seu bando por pura admiração à ele mas que com o tempo, movido pela inveja e sede de fama, altera seu ponto de vista ao ponto de ser seu maior algoz. Dirigido com brilhantismo por Andrew Dominik, o filme tem belas seqüências, explorando com sensibilidade e sem pressa os elementos da linguagem cinematográfica como a fotografia e a montagem. Em alguns momentos, o filme lembra “Mais Forte que a Vingança”(1973) de Sidney Pollack, na utilização de elementos da relação do homem com a natureza, enriquecendo a trama e as circunstâncias da história. Com boas atuações de todo o elenco, o filme é uma revelação e surpreende. Sem dúvida, um dos melhores filmes do ano. O filme recebeu 2 indicações ao “Oscar” nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Casey Affleck) e Melhor Fotografia e deu à Brad Pitt o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza.

Coluna Cineclube - Dia 29/01/23